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Excesso de trabalho é causa de estresse entre os médicos

Estresse, depressão e ansiedade representam uma realidade constante para os médicos da rede pública em Pernambuco. A dissertação de mestrado em saúde coletiva da psicóloga hospitalar Maria Cristina Cabana, da UFPE, observou os efeitos das longas jornadas a que estão expostos os profissionais locais, divididos entre mais de um emprego e lidando com condições de trabalho precárias.
    
Realizado entre agosto e dezembro de 2004, o trabalho compilou depoimentos de 124 médicos de uma unidade da rede pública estadual de saúde na Região Metropolitana do Recife, identificando o sofrimento enfrentado por aqueles que abraçaram a Medicina que inevitavelmente acaba se refletindo em seu trabalho.
    
Os médicos que trabalham nas Emergências são os mais afetados por esse mal. Segundo os resultados da pesquisa, 70% deles têm de três a quatro empregos e 48,98% trabalham mais de 71 horas por semana. Entre eles, 67,35% estão insatisfeitos com suas horas de sono, 60% queixam-se de problemas de saúde e 32% apresentam transtornos mentais comuns, como insônia, fadiga, esquecimento e dificuldade de concentração. Entre aqueles lotados nas UTIs, 82% emendam um plantão no outro.
    
Para a psicóloga, os baixos salários levaram à necessidade de se dedicar a vários empregos, o principal fator de origem dos problemas. “Os médicos têm uma taxa elevada de sofrimento psíquico. Tem sido freqüente na categoria o estresse, o esgotamento físico e, além de tudo, a frustração diante dos limitados recursos do serviço público. Ele sabe o que precisa fazer, mas às vezes não existem as condições”, explica a pesquisadora. “Ainda é uma profissão com uma grande realização pessoal, mas os limites das instituições e a sobrecarga de trabalho vêm provocando esse sofrimento”.
    
O ortopedista Mário Jorge Lobo, 35 anos, vive essa situação. Formado há dez anos, Lobo tem hoje seis vínculos de emprego, sendo três deles na rede pública. Para ele, é fácil explicar porque os médicos devotam-se a uma rotina massacrante como essa.
     
“É o desejo de uma vida melhor, uma remuneração maior. Como os médicos hoje têm a possibilidade de terem mais de um emprego, acabam sacrificando o bem-estar”, revela. Casado e com um casal de filhos – com nove e seis anos de idade – ele lamenta ter pouco tempo para a família.
     
Carreira – Na semana passada, o Conselho Regional de Medicina (Cremepe) publicou uma resolução limitando a quantidade de trabalho dos médicos no Estado. Pelo texto, os profissionais do setor de urgência não poderão atender mais que 36 pacientes no período de 12 horas. No caso dos médicos de UTI, o limite será de atendimento a cinco leitos. A fiscalização deve começar em outubro, para que as unidades de saúde tenham tempo de se adequar. Os responsáveis pelos centros que não seguirem essa norma serão acionados pelo Cremepe. “O estresse prejudica o trabalho do médico. Os que estão nas UTIs, por exemplo, quando são obrigados a atender até dez leitos, terminam vendo os pacientes que estão mais graves”, diz Ricardo Paiva, presidente do Cremepe.
     
“Os resultados da dissertação correspondem a uma realidade que uma pesquisa nossa apontou há quatro anos, e que vamos fazer novamente este ano. A grande aspiração do médico é ter um emprego apenas com salários digno, e a grande bandeira da categoria é a implantação de uma carreira única na rede pública, a que os profissionais possam se dedicar, como acontece com juízes e promotores”, reforça André Longo, presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco.
    
Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.
Com Informações do Diário de Pernambuco.