Pesquisar
Agendar Atendimento Presencial

Serviços

ver todos

Debate sobre prevenção do suicídio entre médicos e estudantes encerra II ENCM 2016

A conscientização sobre a prevenção do suicídio entre médicos e estudantes de Medicina foi tema central do último dia do II Encontro Nacional de Conselhos de Medicina 2016. Para a psiquiatra Alexandrina Meleiro, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), estudos internacionais indicam que os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população geral. O risco de suicídio, no entanto, seja na população geral ou entre médicos é quase sempre reconhecível e previsível, garantiu ela. O debate foi realizado sob a coordenação dos psiquiatras e representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), Emmanuel Fortes (Alagoas) e Salomão Rodrigues Filho (Goiás).

Entre os principais motivos para a alta taxa de suicídio dos profissionais médicos, segundo avaliação de Alexandrina, estão o acesso a meios mais eficazes de letalidade, isolamento social – desde a faculdade –, situação conjungal insatisfatória e precária situação empregatícia. “O médico é facilmente frustrado em suas necessidades de realização e reconhecimento. E isto é suficiente para produzir a ansiedade, a depressão, a hipocondria, o abuso de álcool e outras substâncias, que, infelizmente, podem culminar no suicídio”.

Estudos apresentados pela psiquiatra sugerem que os anestesistas e os psiquiatras são os mais vulneráveis quando o assunto é suicídio. Entre os alunos de Medicina, o grupo de alto risco se concentra naqueles que demonstram melhor performance escolar, são mais exigentes, têm pouca tolerância a falhas, sentem mais culpa pelo que não sabem, ficam paralisados pelo medo de errar, dentre outras características.

“Alguns sinais podem indicar o quadro de depressão no médico, tais como a interferência no funcionamento interpessoal, social e profissional, o isolando da convivência com colegas e familiares, as mudanças de comportamento, a redução no ritmo de atendimento e, principalmente, a dificuldade de tomar decisões”, alertou Alexandrina.

Prevenção – Para o psiquiatra José Raimundo da Silva Lippi, que participou das discussões durante o Encontro, o simples ato de conversar é uma das formas mais eficazes de se prevenir o suicídio. “É preciso falar sobre o assunto e assim quebrar tabus, esclarecer, conscientizar e estimular a prevenção para reverter esse cenário”. Ele cita como estratégia bem sucedida a iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de utilidade pública federal desde 1973.

A organização presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas, inclusive médicos, que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Além de prestar atendimento pessoal em um dos 72 postos espalhados pelo Brasil, o Centro também atende pelo número 141, pelo site (www.cvv.org.br) ou e-mail.

Tratamento – Encaminhar o médico para um profissional especializado, neste caso o psiquiatra, e tratar doenças existentes com medicação e psicoterapias são as formas mais adequadas de conduzir o paciente que apresenta sinais de depressão, inclusive os médicos. A orientação é do conselheiro federal pelo estado do Piauí e membro da Câmara Técnicas de Psquiatria do CFM, Leonardo Sérvio Luz.

“Sabemos que o médico tem muita dificuldade de pedir ajuda por não querer se mostrar vulnerável, mas é preciso conquistar a adesão do ‘médico paciente’ ao tratamento e evitar a autoprescrição. A boa resposta ao tratamento só acontece quando há engajamento”, disse. Para o conselheiro, assegurar a saúde de quem cuida também é garantir o cuidado de toda uma sociedade.

Reabilitação – E como aqueles que não tiveram ‘sucesso’ na tentativa de suicídio devem ser recebidos pela sociedade e pelos colegas de profissão? Para responder a esse desafio, o conselheiro regional de Medicina de Mato Grosso do Sul e também membro da CT de Psiquiatria do CFM, Juberty Antônio de Souza, propõe que o médico reintegrado seja alvo permanente de vigilância.

“É natural que após a tentativa de suicídio, a pessoa se sinta impotente, fracassada, sem perspectiva ou esperança e com vergonha. O médico é uma pessoa, e como tal deve ser tratado. Precisamos ajudá-lo a encontrar satisfação na vida e, para isso, necessita de atendimento e assistência talvez com maior controle, justamente pela sua profissão”, defendeu.

Números – Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, os números também impressionam: segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, foram registrados 11.821 suicídios em 2012, o que representa, em média, 32 mortes por dia.