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Para fugir da espera no SUS

Sensíveis à procura, operadoras moldam seus produtos para atender a público com renda mensal mais baixa

De R$ 40 a R$ 100. Esse é o valor que cada vez mais pessoas, cansadas de esperar até dois anos por uma consulta em postos de saúde e hospitais públicos, como mostrou ontem o Estado, estão dispostas a pagar em planos privados. Oferecidos por pequenas e grandes operadoras, obedecem à mesma lei que regulamenta os demais planos e são fiscalizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar. Não é o público a que as operadoras mais tradicionais se acostumaram a trabalhar e a partir do qual construíram seu mercado. São trabalhadores de classes mais pobres que optaram por pagar um plano de saúde por se sentirem desprotegidos pelo serviço oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS). Por conta do custo, muitas vezes têm de escolher uma ou, no máximo, duas pessoas da família para credenciar.

Foi o que fez a faxineira Crispina Alves de Souza, de 32 anos. Com uma renda média mensal de R$ 700 obtida nas diversas casas em que trabalha, há três meses ela paga R$ 46 por um plano de saúde para seu filho Frank Emídio de Souza, de 7 anos. Antes, a cada resfriado ou febre do garoto, ela corria para o posto de saúde, onde já teve de esperar até quatro meses por uma consulta. “Até agora valeu a pena pagar; ele já usou umas três vezes o plano”, diz.

Apesar do sacrifício no orçamento, pensa em estender o contrato para ela também. Mas antes espera terminar o período de carência para resolver outro problema. O menino tem uma hérnia e Crispina ainda não sabe se o tratamento, que pode requerer uma cirurgia, será coberto pelo plano.

NOVO PÚBLICO

Os mal atendidos pelo SUS são uma parcela de mercado em que algumas operadoras resolveram apostar. Até agora, com bons resultados. Para o diretor técnico da Amil, Jorge Krop, essa é uma tendência que as empresas de saúde não podem ignorar. Ele afirma que cada vez mais pessoas de baixa renda, principalmente nos grandes centros urbanos, adquirem planos de saúde privados. “Reconhecemos essa necessidade e procuramos moldar nossos planos para que estejam de acordo com o que essas classes podem pagar”, diz.

Quanto à confiabilidade de um serviço que custa, em média, R$ 90, Krop afirma que é a mesma dos planos mais caros oferecidos pela empresa, embora a rede de hospitais e laboratórios credenciados seja bem mais modesta. “Existem detalhes diferentes, é claro, mas a segurança é a mesma”, diz. “Os mesmos médicos que operam no plano mais caro, por exemplo, operam nos mais baratos.”

Outra empresa que investe no atendimento do público com esse perfil é a Dicx Amico, que oferece o serviço por até R$ 100. Desde 2003, as vendas desse tipo de plano giravam em torno de 30% do total de contratos. Com investimentos em divulgação dessa alternativa, em três meses, o número saltou para 50%. “O mercado cresce pouco e quem vem comprando mesmo são as classes mais baixas”, diz o gerente comercial da empresa, Fernande Félix.

MAIORIA FEMININA

A procura por planos populares é feita na maior parte das vezes pelas mulheres. Félix revela que elas representam 60% das vendas, com média de 1,2 pessoa por contrato.

Vera Souza Silva decidiu comprar um desses planos por causa do filho Renan, de sete meses. Ele precisou dos serviços do SUS antes de completar 30 dias. “Ele estava com alergia”, diz Vera. “Cheguei no posto de saúde, em Diadema, às sete horas da manhã e me disseram que ele talvez fosse atendido só ao meio-dia.”

Com uma renda de R$ 900, Vera achou caro fazer o plano para toda a família: ela e o marido, além de Renan. Então paga apenas os R$ 56 referentes aos custos do menino. Diz não se arrepender. “Hospital público e posto de saúde não dá mais.”

Especialistas alertam que recorrer a planos mais baratos para compensar o mau serviço público nem sempre é a melhor solução . “Um plano de saúde barato nem sempre cobre todos os procedimentos”, alerta o economista Alexandre Marinho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Ele afirma que parte do atendimento do SUS poderia ser melhorada com a divulgação adequada de informações. Muitas vezes, as pessoas recorrem a hospitais e centros de maior complexidade por julgarem o atendimento melhor, o que contribui para o aumento da espera. “A porta de entrada deve ser o posto de saúde, se isso não funcionar bem, as pessoas vão ter de pagar por um serviço.”

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
Com Informações de Emilio Sant”Anna, do jornal O Estado de São Paulo.