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Cremepe debate o tema com ONG”s e entidades

O abuso e a exploração sexual contra mulheres, meninas e meninos foram tema, hoje (19.06), de um encontro entre membros da Caravana do Cremepe e ONG’s de defesa dos direitos humanos. Participaram do encontro representantes de instituições como As Loucas de Pedra Lilás, Projeto Curumim, Centro de Mulheres do Cabo, Sociedade Psicanalítica do Recife, Gerência de Saúde do Estado, Secretaria de Direitos Humanos, dentre outros. Em pauta, dados alarmantes que confirmam a necessidade de uma maior fiscalização e intervenção em todas as cidades visitadas pela Caravana.

O Cremepe cruzou 147 municípios, em Pernambuco, e em todos eles foram registrados casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes e violência contra mulheres. Apesar das diversas propostas levantadas pelas instituições presentes na reunião, ficaram acertadas duas medidas prioritárias. Primeiro, a elaboração de um documento para ser entregue ao ministro da saúde, José Temporão, retratando a necessidade de implantação de um trabalho de psicoterapia nos Postos de Saúde da Família. Dessa forma, a mulher vítima de abusos teria direito à assistência. Segundo, a urgente necessidade de contratação de promotores para atuar nas cidades do interior, permitindo que as crianças ganhem proteção.

Notícias de menores praticando sexo oral em troca de centavos ou de crianças de cinco anos sendo vendidas pelos pais em troca de sextas básicas chocam a população, mas, muitas vezes, caem no esquecimento. O presidente do Cremepe, Carlos Vital, reforçou a urgência no combate a este tipo de exploração. “Em muitas cidades, pais e padrastos se sentem no direito de abusarem de suas filhas. Precisamos lutar contra o abuso e contra esta cultura”, defendeu Vital.

O coordenador dos projetos sociais do Cremepe, Ricardo Paiva, comentou que a idéia inicial da Caravana era fazer uma fiscalização sobre como estava a situação da saúde no interior do Estado, mas logo no começo das visitas, foram notados casos de abuso sexual. “O problema é que, apesar do apoio da imprensa e da revolta da sociedade, não conseguimos alterar este quadro aviltante. A Caravana é o início de um trabalho que deve ser cobrado das autoridades”, completa Ricardo.

Pesquisas revelam que as regiões Norte e Nordeste do Brasil concentram 50% dos casos de abuso sexual contra menores. Em 70% das ocorrências, a violência está inserida no próprio eixo familiar. Os outros casos são resultados de eixos rodoviários e das mais de 240 rotas de exploração sexual que existem no país. Um outro agravante que merece atenção são os casos de alcoolismo envolvendo os pais das vítimas. Casos de homens que bebem para “justificar” atos violentos contra filhos e companheiras foram registrados em todas as cidades.

Na reunião, também foi levantada a necessidade da união entre o Cremepe e instituições, como o SOS Corpo e outras ONG’s para tentar achar maneiras de combater o problema. A presidente da sociedade psicanalítica do Recife, Ivanise Ribeiro, comentou que a maioria das crianças que sofrem abuso sexual tornam-se adultos com problemas psicológicos. “Esse é um problema muito amplo que merece a atenção de várias instituições”, comenta.

A Caravana permitiu que fossem registrados novos olhares sobre a situação das comunidades visitadas. Além do encontro com prefeitos e representantes dos municípios, uma equipe de psicólogos e profissionais de diversas áreas conversou com o povo nas ruas. O trabalho reforçou a idéia de que um povo que é tratado como escravo só pode ter uma baixa auto-estima. Em muitas cidades, a intimidação do prefeito e de poderosos só colabora para uma situação de desmandos. Para Ricardo Paiva, é necessária uma maior fiscalização do Tribunal de Contas do Estado em relação aos investimentos destinados à saúde dos municípios. A situação de muitos hospitais e maternidades de algumas cidades refletem o descaso de algumas prefeituras e contribuem para uma situação de caos.

Para a vereadora Priscila Krause, que também estava presente na reunião, a Caravana do Cremepe é de grande importância para a população. “O trabalho do Cremepe por si só já é transformador”, ressaltou Priscila. A vereadora sugeriu que, nas próximas caravanas, vereadores, deputados e ministros podem ser convidados para visitar algumas comunidades e ver de perto a realidade da população.

O relatório com os resultados da caravana já foram enviados para o Ministério Público, gabinetes de ministros, deputados, governador e até para a Presidência da República. O encontro com o ministro da saúde para entregar as solicitações acordadas na reunião de hoje está marcado para a próxima sexta feira. Agora o Cremepe espera que os outros poderes públicos se pronunciem e comecem a agir diante do que a Caravana constatou.

Rodrigo de Luna é da Assessoria de Comunicação do Cremepe.