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Entidades médicas reforçam apoio aos profissionais que pediram demissão

Na foto: André Longo (vice-presidente do Cremepe), Mário Fernando Lins (presidente do Simepe), Carlos Vital (presidente do Cremepe) e Jane Lemos (presidente da AMP)


Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (26/07), representates do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), do Sindicato dos Médicos (Simepe) e da Associação Médica de Pernambuco (AMPE) reforçaram o apoio aos médicos demissionários.


Para o presidente do Cremepe, Carlos Vital, os profissionais que deixaram seus cargos não estão faltando com a ética médica, assim como defende o governo do Estado. Para ele, ninguém tem condições de trabalhar onde falta financiamento e existe inoperância de gestão. “É direito do médico ter condições de proporcionar um bom atendimento ao paciente. Nenhum dos profissionais deve ser obrigado a trabalhar apenas por conta do esforço pessoal, sem condições psicológicas”, defende.


Na tentativa de punir a atitude dos médicos, a Procuradoria Geral do Estado entrou com ação ordinária contra cada um dos 36 especialistas, cujos pedidos de exoneração chegaram até o Departamento Pessoal da Secretaria Estadual de Saúde. Mas o Simepe já está tomando as medidas necessárias para salvaguardar os médicos demissionários. “As ações intimidatórias não vão calar os médicos. O que o governo faz vai contra todos os princípios”, defendeu o presidente do Simepe Mário Fernando Lins.


O vice presidente do Cremepe, André Longo, confirma que não houve tentativa de reestabelecer um canal de renegociação por parte do governo do Estado. Por isso o pedido de demissão dos médicos é uma atitude legítima e não precipitada. Para Longo, há uma intenção por parte do governo de atribuir aos ortopedistas do Hospital Getúlio Vargas a culpa pelos problemas nas demais emergências. “A saída dos profissionais não é o pivor do caos, apenas um agravante. O fato é o excesso de pacientes”, afirmou.


E esse estado de caos em que se encontram as grandes emergências do Estado não é novidade para nenhuma das entidades médicas, que por muitas vezes já denunciaram as condições subhumanas de atendimento aos pacientes. “A atitude extrema dos médicos existe na tentativa de melhorar tanto os aspectos técnicos quanto a qualidade de assistência nos hospitais. É uma forma de defesa da política de saúde no Estado”, afirma Jane Lemos, presidente da AMPE. O vice presidente do Simepe, Antônio Jordão, defende que uma equipe médica desfalcada dentro de um hospital não pode prestar um bom serviço. “Não dá mais para fazer a escolha entre quem vai viver e quem vai morrer”, defende. Para ele, também é necessário questionar das autoridades qual será o futuro dos hospitais públicos estaduais, pois, a criação de Fundações Estatais de Direito Privado, por exemplo, seria uma forma do governo privatizar o sistema público de saúde e se desresponsabilizar pela situação.


O presidente do Cremepe, Carlos Vital, também afirmou que agora só cabe ao Estado tomar medidas lógicas e acertivas para solucionar a situação, pois, “a dignidade humana é o que se reivindica, tanto para médicos quanto pacientes”. No dia 31 de julho, às 19 horas, está marcada uma assembléia geral na Associação Médica de Pernambuco para ratificar a pauta de reivindicações dos profissionais.


Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
FOTO: Chico Carlos, da Assessoria de Imprensa do Simepe.


QUEM VAI SOCORRER OS HOSPITAIS PÚBLICOS?
Caos no HR é retrato da situação das grandes emergências do Estado


Rodrigo de Luna
Da reportagem do Cremepe no Ar


Pacientes chorando, com dor, sem atendimento. Familiares angustiados e revoltados. Esse é o cenário de uma manhã de segunda feira, semelhante ao de tantos outros dias na maior emergência geral do Estado. Atendimentos em macas, no chão, corredores lotados e apenas uma atitude é certa: esperar. Espera sofrida pela estudante Andreia Cavalcanti. Quase doze horas depois de chegar ao HR, o pai dela ainda esperava por um leito. “Ele levou uma queda e está no corredor desde ontem esperando ser transferido. Meu pai está fraco e é idoso. Estão tratando o povo pior do que se fossem animais.”, desabafou, em prantos, Andréia.


Quem também esperou muito e acabou recebendo alta devido à falta de vagas na emergência foi o aposentado Gilberto de Melo, 63. A esposa dele alega que, mesmo sendo vítima de três AVC”s, o paciente não recebeu atendimento adequado. “Nem os exames que a doutora passou para meu marido ele pôde fazer. Isso daqui se transformou num caos generalizado.”, comenta.


Por estar localizado em um local central da cidade e com vias de fácil acesso, grande parte da população da região metropolitana recorre aos serviços do hospital. Por mês, são registrados no HR, cerca de 13 mil atendimentos de urgência. Casos menos graves, que deveriam ser encaminhados a policlínicas e unidades de menor porte, chegam diariamente ao hospital. Com capacidade instalada para 80 leitos na emergência geral de adultos, o HR possui em média 200 pacientes internados, fora os que chegam a toda hora. São apenas 22 médicos, por platão, para cuidar de toda a gente. O maior registro de superlotação está no atendimento de pacientes politraumatizados. A unidade, que possui capacidade para, no máximo, 10 pacientes, atende em média 40 pessoas.


A falta de higiene e de condições físicas prejudica ainda mais o trabalho de médicos e enfermeiros. Sem condições de trabalho por parte dos profissionais e com a grande demanda de pessoas para serem atendidas, muitos pacientes acabam morrendo por falta de socorro ou por complicações durante a recuperação.


Nos últimos seis meses, a coordenação da emergência do HR solicitou à Secretaria Estadual de Saúde (SES) a contratação de pelo menos 100 médicos. Desses, apenas 11 profissionais foram nomeados. No mesmo período, 15 médicos já haviam pedido demissão. Para o Conselho Regional de Medicina (Cremepe), o caos na emergência do HR não é novidade. “A situação fere não só a ética médica, mas também os princípios morais do profissional, que precisa escolher na sorte quem vai atender primeiro dentro de uma emergência lotada”, defende o presidente da entidade, Carlos Vital.


A SES divulgou, em nota, que a situação se agravou por conta do pedido de demissão de vários médicos das grandes emergências como a dos hospitais Getúlio Vargas e Otávio de Freitas. Ainda não há consenso quanto a pauta de reivindicações dos médicos, que exigem um salário de R$ 2.161 para substituir o atual, de R$ 1.400. Por enquanto, a SES aconselha a quem sofrer lesões mais leves se dirigir à policlinica Campina do Barreto e ao hospital Oscar Coutinho, ambos no Recife. Médicos das forças armadas estão sendo convocados para assumir os postos deixados pelos profissionais das emergências enquanto não há uma solução definitiva.


PLACAR SIMEPE – A situação das grandes emergências estaduais está sendo avaliada pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). No começo do mês, o Hospital Getúlio Vargas (HGV) e o Procape foram os primeiros a ser visitados pelo projeto Placar Simepe, criado para orientar os pacientes do SUS sobre a qualidade dos hospitais públicos do Estado. Pelo “Escore Simepe”, a emergência do HGV atingiu 46 pontos, o que caracteriza um péssimo estado. Já no procape a situação foi ainda pior. O hospital atingiu 25 pontos, ou seja, estado de caos, segundo os critérios de avaliação. De acordo com o presidente do Simepe, Dr. Mário Fernando Lins, a proposta é que, semanalmente, pelo menos um hospital seja avaliado e os dados levados a conhecimento público.