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Mustardinha recebe caravana

Sede provisória, há quase 8 anos. É com a mesma estrutura, destinada a abrigar as atividades de assistência à saúde de forma paliativa até que um local com condições adequadas fosse providenciado, que a Unidade de Saúde da Família do Distrito V funciona até hoje no bairro da Mustardinha. A caravana do Cremepe e Simepe esteve na comunidade na manhã desta quarta (13.06) e diagnosticou as condições precárias de espaço físico e de atendimento à população.

A unidade possui duas equipes médicas e 13 agentes de saúde para atender e acompanhar cerca de 8 mil moradores. Por conta da incapacidade da unidade em atender acima deste número, mais de 50% dos comunitários não estão relacionados entre os que recebem visitas e atendimentos.

A estrutura física – uma casa alugada – é inadequada. As salas são pequenas, os corredores estreitos, sem ventilação e uma escada impede que pacientes com dificuldade de locomoção recebam atendimento no piso superior, onde uma das equipes está instalada. A dificuldade em acessibilidade é motivo de reclamação não só da comunidade mas também da equipe que, em alguns casos, já precisou atender pacientes cadeirantes na própria recepção.

O posto conta com sala de coleta improvisada e com farmácia para dispensação de medicamentos. Um ponto positivo identificado foi a visita domiciliar que é feita sistematicamente, alcançando todos os idosos acima de 70 anos, acamados ou não.

Já a jornada para conseguir atendimento, começa cedo. O sistema de marcação não é feito por agendamento. Os pacientes a serem atendidos diariamente são definidos através da distribuição de fichas e por ordem de chegada.

Há moradores que chegam à unidade por volta das 4hs da manhã para conseguir a numeração. As duas equipes realizam cerca de 40 atendimentos por dia.

“O problema de vir muito cedo para pegar ficha não é só o de ficar esperando, mas é também o risco que a gente corre. Aqui é muito violento e às vezes acontece assalto”, afirmou Manoel Ramos, morador da Mustardinha há 52 anos.

Os caravaneiros responsáveis pela aplicação de pesquisa confirmaram este problema. A violência é grande e causa medo na população que, em muitos casos, se cala para não se envolver em nenhum tipo de denúncia.

A questão das drogas mais uma vez foi levantada. Os moradores da Mustardinha convivem com o tráfico e o crescente número de usuários na localidade. Um dos poucos que se depara com esta realidade mas não se cala é Joaquim Cândido, 65 anos. Ao encontrar com os caravaneiros envolvidos na oficina de pintura e grafitagem, na praça Irmã Doraci Neri Sampaio, no centro da comunidade, “seu Quinca”, como é conhecido pelos moradores, não hesitou em denunciar o problema. “Eu cuido dessa praça todo dia, já faz 14 anos – varrendo e plantando – e sempre aparece gente aqui envolvido com droga. O risco que eu passo é muito grande.”, disse ele.

“Seu Quinca” não demorou muito conversando sobre os problemas da comunidade e logo se envolveu com a arte proposta pela equipe da caravana. Ele desenhou um elefante, que representa muito sua história de vida. Pai de 27 filhos, seu Joaquim foi abandonado pela mãe ainda bebê, que o deixou em uma ponte, enrolado em um tecido junto com um pequeno elefante de louça. Deste fato dramático surgiu sua inspiração. O desenho se misturou às pinturas feitas pelas cerca de 15 crianças da comunidade que participaram da oficina.

Com o objetivo não só de levar a possibilidade de interveções artísticas para as comunidades, a caravana pretende levantar dados e reunir informações para apresentar às autoridades competentes, buscando iniciativas de políticas públicas para melhoria de vida nas comunidades.

A Caravana do Cremepe e Simepe está em sua reta final. Na próxima sexta-feira (15.06) os bairros visitados serão: Bola na Rede e Guabiraba.