Quando tudo que você pensava que sabia sobre o aparecimento do câncer de mama cai por terra. Quando você se vê diagnosticada com a doença mesmo estando fora da faixa considerada de risco, que seria 50 anos. Quando se vê confrontada com a surpresa dos parentes, amigos e até dos médicos diante de um tumor maligno na mama aos 22 nos de idade. Esse foi o drama superado pela consultora de sistemas Thaís Batista, atualmente com 30 anos. Moradora de Belo Jardim, no Agreste pernambucano, a jovem está curada e repara-se para comemorar mais um aniversário livre da doença. O primeiro foi com cinco anos do aparecimento o tumor, o que, segundo os prognósticos médicos, indica que ela está curada.
“Quando a doença foi confirmada, o médico disse que não tinha nenhuma ligação com genética já que não havia casos na minha família. Chegou a dizer que foi muito azar, pela minha idade. Mas, em todo o momento, foi muito competente ao sugerir mastectomia radical e encaminhar ao tratamento adequado de quimioterapia e radioterapia. Foi um susto me deparar com uma realidade tão inusitada”, contou Thaís.
A descoberta do nódulo foi meio sem querer, segundo ela. A garota percebeu um caroço, já bastante grande, no seio esquerdo. Além do nódulo, a mama também apresentava o bico do seio invertido, que é um dos sinais da presença do câncer na mama. “A confirmação se deu por meio da biopsia com o diagnóstico ‘Carcinoma Ductal Invasivo’. Quando recebi esse diagnóstico, tinha duas escolhas: me abater por aquela notícia ou encarar a doença. Apesar de muito jovem, fiz a escolha certa, encarei de forma positiva e jamais pensei que aquilo me levaria à morte”, contou.
Como a doença estava avançada, foi preciso correr contra o tempo. Cerca de 15 dias depois da confirmação do câncer, foi submetida a cirurgia para a retirada da mama e esvaziamento de gânglios das axilas, que já estavam comprometidos também. Na ocasião, foi realizada simultaneamente a reconstrução da mama. Apesar da garra para prosseguir a batalha, a consultora se viu frente a frente com momentos de sofrimento. As reações do tratamento e o vai e vem entre Recife e Belo Jardim para fazer as medicações foram desgastantes.
A cura veio e uma nova Thaís renasceu, querendo novidades, novos lugares e novas aventuras. “Fiz viagens nacionais e internacionais como Argentina, Chile e Europa. Acho que foi uma forma de aproveitar mais a vida que me foi devolvida após a cura.
INCOMUM
Casos de câncer de mama na casa dos 20 anos são raros. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), as internações por neoplasia mamária nessa faixa de idade somaram 423 entre 2012 e 2104. No mesmo período oito garotas entre 20 e 29 anos morreram por câncer de mama. A oncologista do Neoh e do Imip, Jurema Telles destacou que a doença em pessoas tão jovens é incomum, mas pode sim acontecer. “Sabe-se que 8% a 10% dos cânceres acontecem fora da faixa etária, ou seja, em mulheres com menos de 40 anos. Entre as mais jovens existe uma relação ainda maior também com o componente genético. Enquanto no público geral a relação é de 10%, entre as mais jovens é de 40% de prevalência da doença pela mutação dos genes, principalmente o BRCA1 e o BRCA2”, comentou a médica. Por isso faz-se necessário, quando há recorrentes casos na família, iniciar uma investigação precoce. “A recomendação é começar esse acompanhamento com exames dez anos antes da paciente mais jovem a apresentar câncer na família. Se a paciente mais nova teve com 32 anos, as mulheres dessa família devem começar a ser acompanhadas a partir dos 22 anos”, exemplificou. RISCOS
Fora a predisposição genética maior para o aparecimento tão precoce da doença, outro fator de risco na população jovem para o desenvolvimento do tumor de mama são tratamentos posteriores de radioterapia. “Eu tenho muitos pacientes que são sobreviventes do câncer infantil e que estão tendo o câncer de mama como segundo tumor épocas depois”, esclareceu a oncologista. Isso acontece porque os pacientes infantis expostos ao tratamento no tórax, seja para tratamento de linfomas e até leucemias, podem apresentar o câncer mamário como consequência posterior.
EXAMES
Jurema Telles contou que para as mulheres na casa dos 20 ou 30 anos a mamografia não é um exame seguro para a detecção de tumores. Nessa idade a mama é densa demais para que a imagem identifique alterações. “Para isso o indicado é fazer o ultrassom, o exame com profissional de saúde periódico de seis em seis meses ou anual. E a ressonância magnética de modo a complementar o ultrassom.” O importante é não negligenciar sinais de perigo. A sobrevida depende justamente dessa corrida contra o tempo.