Brasil, Bolívia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Peru e Venezuela foram alguns dos países que contribuíram, como oradores ou debatedores, da mesa-redonda sobre “Política de Saúde na América Latina”. As discussões e deliberações sobre o tema foram um dos destaques da Assembleia Geral Ordinária da Confederação Médica Latino-Ibero-Americana e do Caribe (Confemel), que teve início nesta quarta-feira (23), em Brasília (DF).
Para o médico costa-riquenho Alexis Castillo, a mudança no perfil epidemiológico e demográfico na região – e em todo o mundo –, com a queda na taxa de fecundidade e aumento da expectativa de vida, representa um dos principais desafios da atualidade. “O aumento das doenças crônico-degenerativas, senis e mentais exigirão mais dos nossos sistemas de saúde”, destaca Castillo, que é professor da Universidad de Costa Rica e atua nas principais instituições médicas de seu país.
Entre os principais desafios apontados por ele e pelos representantes dos demais países-membros da Confemel, estão a inequidade de acesso aos serviços de saúde, a gestão ineficiente e o déficit crônico de recursos. O grupo discutiu questões comuns e peculiaridades locais como as cinzas dos vulcões na Costa Rica como fator desencadeante de problemas de saúde, e o benefício conhecido como “escalafón” em El Salvador, conforme relatou Juan Antonio Tobar. Entre as questões partilhadas, estão a corrupção, o financiamento da saúde e avaliação crítica da atuação de órgãos internacionais como Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), entre outros temas que serão aprofundados durante o evento.
Saúde mental – “Cerca de 25% da população sofre algum tipo de transtorno mental, mas a grande maioria não tem acesso a tratamentos e medicamentos de qualidade”. Com essa observação, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo, chamou a atenção dos participantes da Confemel para a o problema da saúde mental na América Latina. A palestra foi presidida pelos representantes da Costa Rica, Karim Rojas Herrera, e do Peru, Miguel Palacios Celi.
Durante sua fala, Antônio Geraldo apresentou um panorama das políticas de saúde mental em países da América e criticou os baixos investimentos. De acordo com ele, em 2004, 6,3% do orçamento de Saúde no Brasil era destinado para saúde mental; hoje, doze anos depois, corresponde a 1,8%. Os valores são menores do que países como o México (2%), Costa Rica (2,9%) e Panamá (2,9%), enquanto o preconizado pela OMS é de 5 a 15%.
Segundo Geraldo, atualmente, as políticas públicas de saúde mental brasileiras são orientadas para ignorar os conhecimentos técnicos e as evidências científicas e convencer pacientes de que eles não precisam de tratamento. “Há a intenção de transferir dos médicos a atribuição de curar os pacientes, além de responsabilizar as famílias e o próprio doente”, disse o psiquiatra, que defendeu ainda um sistema ambulatorial para prevenção e tratamento, além de uma desmitificação da doença mental por parte da população e até dos médicos.