“Considero inaceitável que a atenção ao paciente seja graduada segundo seu poder aquisitivo. Trata-se de um vício incompatível com o exercício digno da profissão, sobretudo em regiões ainda com largos bolsões de pobreza como é o Nordeste brasileiro”, afirmou o médico Cícero Ferreira Fernandes Costa, ontem, ao ser homenageado na Assembleia Legislativa com o título de cidadão pernambucano. No discurso, ele se referia à importância da humanização dos profissionais de saúde numa época em que, segundo ele, muitos se dedicam à mercantilização da medicina.
Cícero nasceu no Rio Grande do Norte, mas construiu sua carreira entre o Sertão do Ceará e de Pernambuco, atendendo especialmente a mulheres e gestantes carentes. Ele foi o primeiro no Norte e Nordeste a criar um mestrado na área de ginecologia e obstetrícia na Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco.
“Julgo um privilégio ter exercido minha profissão por longos anos em áreas de baixa renda (…) Tenho, no Nordeste, minha origem e vocação primeira”, discursou Cícero, que chegou a realizar oito cirurgias em um dia só, no auge dos anos 1960, no município de Araripina, no Sertão estadual, para ajudar os que não dispunham de atendimento médico.
Cícero nasceu em Pau dos Ferros (RN), hoje tem 85 anos, cabelos brancos e olhos ainda curiosos. Formou-se em 1958 na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, mudou-se para trabalhar no Sertão do Cariri, no município de Campos Sales (CE), e ficou à frente de um hospital-maternidade que atendia a pacientes do Ceará, do Piauí e de Pernambuco. Em 1971, ele retornou ao Recife. “A história de vida dele estimula novos profissionais, inspira a classe política e a sociedade”, afirmou o deputado estadual José Humberto Cavalcanti (PTB), autor do título de cidadão. “Cícero é um símbolo da medicina pernambucana, um exemplo de ética e de espírito público para todos nós”, declarou o vice-presidente do Diario de Pernambuco, Maurício Rands, que acompanhou a solenidade. Segundo o presidente do Cremepe, André Dubeux, Dr. Cícero “é a reserva moral dos obstetras do estado”.