Aproximadamente 40% das vagas de Residência Médica (RM) e, portanto, de médicos residentes, estão concentradas em quatro especialidades: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, e ginecologia e obstetrícia. Cabe ressaltar que clínica médica é pré-requisito para RM em outras 12 especialidades, e cirurgia geral, para 10.
Na tabela abaixo é possível verificar o comportamento de 20 maiores especialidades em termos de vagas em RM de acordo com os diferentes níveis de formação. “Trata-se de um trabalho de extrema importância, pois, pela primeira vez, permite à sociedade visualizar esse problema que pode ter consequências graves na oferta de médicos capacitados para atender à população em áreas específicas”, sentencia o conselheiro Lúcio Flávio Gonzaga.
Distribuição – A oferta e ocupação de vagas de RM nas especialidades guardam relação com a distribuição de médicos especialistas já titulados e em atividade. “Por exemplo, as cinco especialidades com maior número de residentes são também as cinco com maior número de especialistas titulados”, destacou o professor Mário Scheffer, da Universidade de São Paulo (USP), coordenador do estudo.
Segundo ele, há mudanças em curso na oferta de RM que podem repercutir no aumento futuro do número de especialistas em algumas especialidades. O professor enumera que medicina de família e comunidade, que reúne apenas 1,4% dos especialistas em atividade, passou a representar 4,4% de todos os médicos residentes. Por sua vez, psiquiatria, que reúne 2,7% dos especialistas, já representa 4,1% das vagas ocupadas de RM.
Para Scheffer, isso é reflexo da destinação de bolsas e de políticas específicas do Ministério da Saúde, como o Programa Nacional de Apoio à Formação de Médicos Especialistas em Áreas Estratégicas (Pró-Residência), que passaram a priorizar a expansão de vagas de RM em determinadas regiões e especialidades consideradas estratégicas para o SUS.
Tendência – A Demografia Médica aponta ainda que outras especialidades, como cardiologia, seguem uma tendência inversa. Os números mostram que os cardiologistas representam 4,1% do total de especialistas no País e 3,1% do total de médicos residentes em 2017. “De qualquer modo, o crescimento da oferta global de vagas em RM no Brasil fica nítido ao se comparar os números de R1 (novas vagas de ingressos em 2017) com as vagas de R2. No segundo ano estão 11.820 médicos residentes e, no primeiro, 16.499, crescimento de 39,6%”, destaca Scheffer.
Algumas especialidades se destacam, como medicina de família e comunidade, que tem 1.043 residentes no primeiro ano e 508 no segundo, e medicina de emergência, que tem 54 residentes no primeiro ano e 14 no segundo. As especialidades com mais residentes (clínica médica, pediatria, ginecologia e obstetrícia, cirurgia geral e anestesiologia) somam 8.281 em R1 e 5.974 em R2, o que representa um crescimento de 2.307 vagas ocupadas entre um ano e outro, ou 38,62%.
Há poucas situações inversas com queda de residentes no primeiro ano em relação ao segundo, como pneumologia, que caiu de 63 para 54; acupuntura, que passou de 13 para quatro, medicina do trabalho, de 22 para 15, e patologia clínica/medicina laboratorial, de oito para quatro.