Que grávida não gostaria de passar os últimos meses de gestação em um lugar sem nenhum caso de Covid-19? Esse lugar existe: a ilha de Fernando de Noronha. Mas, por falta de estrutura, os partos não são permitidos por lá.
A empresária Alyne Luna decidiu confrontar a lei para ter o filho longe do coronavírus e foi retirada a força da ilha no domingo passado, em pleno Dia das Mães.
O paraíso foi o cenário de uma gravidez muito esperada, e planejada. A chegada de Helena, a primeira filha da Alyne e do Paulo, deveria ser um momento de extrema felicidade para o casal, mas a pandemia do novo coronavírus mudou o roteiro.
Aos oito meses de gestação, Alyne descumpriu a determinação judicial que orienta as grávidas de Noronha a deixar a ilha para dar à luz no continente.
Na data marcada para a viagem, ela fugiu, mas no dia seguinte se apresentou na delegacia e foi levada ao aeroporto sob escolta policial. Ela foi para o Recife em um avião fretado pela Secretaria de Saúde de Pernambuco.
As grávidas de Noronha têm que ir para Recife para dar à luz desde 2004. O único hospital de Fernando de Noronha não tem maternidade e, por isso, não poderia fazer cesarianas ou partos de risco. Elas devem sair da ilha com 28 semanas de gravidez e voltar um mês depois do parto.
São 545 quilômetros de distância entre Fernando de Noronha e o Recife onde está a maternidade mais próxima. Um oceano separa realidades bem diferentes. Enquanto na ilha, os 28 doentes foram curados e há 25 dias não surgem novos casos, no Recife, foi imposto o bloqueio total para evitar a circulação dos moradores, o lockdown.
Alyne e todas as grávidas que deixam a ilha ficam hospedadas em um hotel com acompanhante. As despesas são pagas pelo governo do estado.
A Secretaria da Saúde de Pernambuco diz que para manter uma equipe médica em uma maternidade na ilha seriam gastos R$ 3,6 milhões por ano. Como nascem, em média, 21 bebês por ano em Noronha, cada parto custaria mais de R$ 170 mil. O valor para manter cada gestante por três meses no Recife é de R$ 8,9 mil. O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco recomenda a saída das grávidas de Fernando de Noronha.