Diarreia, prisão de ventre, anemia e dor abdominal são alguns dos sintomas sofridos por pessoas sensíveis à ingestão do glúten em todo o mundo. Hoje, 05 de maio, é o Dia Internacional do Celíaco, ou seja, as pessoas acometidas por este problema. O glúten é uma proteína que pode ser encontrada em alimentos que contém trigo, aveia, centeio, cevada e malte. Parte da população não ingere a substância por diversos motivos, até mesmo por opção própria, por escolher viver sem estes alimentos, tidos como, muitas vezes, vilões do estilo de vida saudável.
No entanto, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), pelo menos 1% da população mundial é portadora da Doença Celíaca. Ainda segundo a entidade, o problema é uma desordem sistêmica autoimune, desencadeada pela ingestão de glúten, que causa inflamação crônica da mucosa do intestino delgado que pode resultar na atrofia das vilosidades intestinais, com consequente má absorção intestinal e suas manifestações clínicas.
De acordo com a Federação ainda existem muitos pontos frágeis no cumprimento da dieta sem glúten no Brasil, desde o entendimento do setor alimentício sobre o problema até a indústria e serviços de alimentação, a instituição aponta que nem mesmo as cozinhas hospitalares podem ser consideradas ambientes 100% seguros para celíacos.
Segundo a FENACELBRA, até os anos 1990 as crianças eram as mais diagnosticadas no Brasil, uma vez que existia a crença de que a doença celíaca sempre se manifestaria na infância, mas com a maior circulação de informações, pessoas de todas as idades começaram a ser diagnosticadas.
Além dos portadores da doença celíaca, existem ainda pessoas com intolerância e até alergia ao glúten. Suas dúvidas e medos mais frequentes têm relação direta com segurança alimentar. Para explicar um pouco a respeito da alimentação das pessoas que se restringem desta proteína, a conselheira do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), gastroenterologista e endoscopista, Maria do Carmo Godoy, conversou com a assessoria da autarquia.
CREMEPE: Qual é exatamente a diferença entre doença celíaca, sensibilidade não celíaca ao glúten e alergia ao trigo?
A doença celíaca acomete desde crianças a idosos, em ambos os sexos. Os sintomas mais comuns são diarreia, perda de peso e déficits de nutrientes. Nesta condição a ingestão de mínimas quantidades de glúten induz reação imune no intestino, que leva a atrofia de mucosa e consequente má absorção de alimentos e vitaminas. Apenas indivíduos geneticamente predispostos vão desenvolver esse problema com a ingestão de trigo, centeio ou cevada.
A sensibilidade ao glúten caracteriza-se por pessoas que tem queixas digestivas mais brandas associadas à ingestão de glúten e sem critérios para diagnóstico de celíaco, baseado na observação do paciente e na exclusão de outras patologias pelo seu médico.
A alergia ao trigo apresenta-se na maioria das vezes por manifestações em pele.
CREMEPE: Quais exames podem ser feitos para diagnosticar a intolerância?
Não existe um exame diagnóstico da intolerância, como citado acima será um diagnóstico de exclusão. Para doença celíaca existem exames de laboratório e biópsia em intestino delgado, além de pesquisa de HLA em casos específicos.
CREMEPE: Qual o tratamento indicado para esses problemas?
Para cada uma das situações segue-se uma linha terapêutica, para o celíaco a retirada do glúten da dieta é fundamental para recuperação da mucosa intestinal e reposição das vitaminas deficientes até estabilização do quadro clínico e laboratorial.
O paciente intolerante deverá avaliar seu grau de sintomatologia e dosar a retirada do glúten de acordo com suas queixas.
O alérgico deverá suspender o trigo e de acordo com seu quadro clinico e em seguida tentar uma desensibilização.
CREMEPE: Quais as principais consequências de não seguir a dieta restritiva?
Esta resposta fica na dependência de cada situação aqui tratada, para o celíaco é fundamental manter a dieta restritiva para manter sua saúde, o alérgico e o intolerante serão avaliados caso a caso.
CREMEPE: A contaminação cruzada vem sendo cada vez mais discutida e acaba tornando-se o pavor dos celíacos quando resolvem fazer alguma refeição fora de casa. O quanto essas pessoas devem de fato se preocupar com esta contaminação?
A contaminação existe, seu grau de importância é discutível, evidente que na fase aguda, digamos assim, no momento do diagnóstico e início do tratamento deve-se ficar atento a esta possibilidade e tentar ao máximo avaliar o ambiente de realização dos alimentos.
CREMEPE: Existe um modo de higienização recomendado para esterilizar o ambiente e objetos da presença do glúten?
Não existe um modelo específico, os cuidados de separação de utensílios de cozinha parecem prudentes, além de medidas normais de higienização.
CREMEPE: Como saber se um produto pode ser ingerido por um celíaco?
Deve-se ler a composição descrita nos rótulos dos alimentos, e aqui vale a ressalva quando se ler “proteína vegetal hidrolisada” na maioria das vezes deriva do trigo.
Outra dica importante e procurar lojas específicas e seguras de vendas de alimentos especiais.
CREMEPE: Além de alimentos, o celíaco deve preocupar-se com outras coisas, como medicamentos, por exemplo?
Existem vários medicamentos que contém na sua formulação alguma composição de glúten, sendo importante que o paciente cheque esse detalhe ou prefira o uso de medicamentos em gotas ou solução.
CREMEPE: Para a pessoa que não possui nenhuma restrição ao glúten e o ingere de forma equilibrada, a proteína pode ser benéfica?
Não há como dizer se é “benéfica”, entretanto se o individuo é saudável e não tem restrições, pode seguir uma alimentação normal.
CREMEPE: É recomendado adotar uma dieta livre de glúten e lactose por opção?
Literalmente a palavra que usou “por opção”. Desde que com acompanhamento médico e do nutricionista, não terá prejuízos.
CREMEPE: Existe alguma expectativa da comunidade médica especialista quanto ao desenvolvimento de algum medicamento que permita aos intolerantes a ingestão do glúten? Como hoje é possível aos intolerantes à lactose, por exemplo.
Até o momento desconheço esta perspectiva, entretanto a medicina caminha sempre, 24 horas por dia, quem sabe agora não existirá algum pesquisador em vias de lançar algo no meio científico?
Edição: Joelli Azevedo