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Médicos contra ter Carnaval em 2022

“Eu não quero passar outra noite em claro tendo que entubar pacientes”. A declaração é de Filipe Prohaska, chefe da Triagem de Doenças Infecto-contagiosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, sobre as possíveis consequências da realização do Carnaval de 2022. Ele foi um dos especialistas de saúde ouvidos nessa segunda-feira (13) pela Comissão Especial sobre a retomada do Carnaval, São João e demais grandes eventos da Câmara do Recife.

“Eu não quero ter que ligar para os familiares para dar notícias por telefone, que é uma forma degradante, desumana de dizer que você perdeu um pai, um ente querido por telefone, porque você não podia deixar as pessoas irem para o hospital”, completou Prohaska.

O posicionamento contrário ao Carnaval no próximo ano foi unanimidade entre todos os médicos ouvidos ontem; ao contrário de reuniões anteriores da comissão, em que representantes da cadeia produtiva e do poder público admitiram a execução da festa, mas em outros moldes: em ambientes controlados e com exigência do passaporte da vacina.

Segundo defendeu Carlos Brito, professor adjunto de clínica médica e da pós-graduação de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a apresentação do comprovante de vacinação em eventos com aglomeração não traz segurança alguma diante da chegada da variante Ômicron, que será inevitável em todo mundo.

“Além da transmissibilidade alta, os estudos mostram que apenas duas doses não são suficientes para produzir anticorpos e se defender contra a Ômicron, por conta das mutações que ela sofreu”, disse Brito. “A cada semana países novos são atingidos (pela nova variante), nós já temos aqui 11 cepas confirmadas. As do Brasil que foram confirmadas foram em pacientes vacinados. Os trabalhos publicados em Hong Kong, os dois primeiros casos demonstrados lá eram pacientes vacinados”, completou.

Eduardo Jorge, membro dos comitês técnicos de assessoramento das vacinas contra a covid-19 da secretaria Estadual de Pernambuco e do Ministério da Saúde, foi objetivo ao dizer que considera uma irresponsabilidade sequer achar que há possibilidade de haver Carnaval no próximo ano.

“É impossível a gente ter uma festa daqui a dois meses que estimula o não uso de máscaras, estimula a disseminação e é muito provável que nos próximos 15 dias, infelizmente, nós passaremos a ter aumento de número de casos”, disse Jorge.

Para ele, a aplicação da terceira dose do imunizante é essencial para combater a disseminação da Ômicron, mas não a “salvação da lavoura”. “Precisamos de máscara, distanciamento, evitar aglomeração, entre elas o Carnaval pernambucano”, cravou.

POSICIONAMENTO

Também estiveram na reunião representantes de instituições que já emitiram publicamente notas técnicas alertando para os riscos da realização do Carnaval, a exemplo do Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremepe), do Conselho Regional de Biomedicina 2ª Região, do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe).

“A pandemia não acabou. Pelos dados até agora reunidos, ela está longe de acabar. As pessoas dizem ‘Ah, tem que conviver com ela’. Mas a gente não tem que conviver com a morte, a gente tem que conviver com a vida, com a precaução, com as medidas. Como é que daqui a dois meses vai pode estar todo mundo sem máscara? Em uma festa privada ou pública, seja lá como for”, afirmou Luiz Arraes, membro do comitê científico do Consórcio Nordeste.