Texto: CINTHYA LEITE – cleite@jc.com.br
No Hospital Otávio de Freitas (HOF), em Tejipió, Zona Oeste do Recife, foi realizado o primeiro procedimento de transplante ósseo em um serviço da rede estadual de saúde. Agora, a unidade, que realiza atendimentos de alta complexidade em traumato-ortopedia, inicia o processo de solicitação de credenciamento junto ao Ministério da Saúde para se tornar unidade transplantadora na área.
Para realizar o transplante, o Otávio de Freitas recebeu uma autorização em caráter excepcional do Sistema Nacional de Transplantes.
“É um marco importante para Pernambuco por se tratar de um procedimento de extrema dificuldade, que exige equipe treinada e capacitada para manejar tecido ósseo e estrutura hospitalar para transporte e manipulação desse tecido”, diz o coordenador do setor de ortopedia do Hospital Otávio de Freitas, Hermes Wagner.
A paciente é a revendedora de cosméticos Nilsa Maria Gomes da Silva, de 51 anos, residente de Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Ela tinha uma prótese de quadril há 20 anos. A peça foi colocada por causa da sequela de uma infecção que gerou um desgaste na cabeça do fêmur (artrose).
Ao longo dos anos, a área foi se deteriorando ainda mais, ocasionando uma desigualdade no comprimento das pernas em 10 centímetros. Após a avaliação dos profissionais do Otávio de Freitas, foi identificada a necessidade de uma intervenção para revisão de prótese de quadril (troca da prótese).
“Ao avaliarmos o caso da paciente, identificamos um obstáculo que era o estoque ósseo dela para suportar a remoção da prótese anterior e colocação da nova. Diante disso, foi necessário partir para o enxerto de tecido ósseo, a fim de restaurar a área com ausência de osso, fornecendo a estrutura corporal necessária para suportar a nova prótese, sendo possível fazer essas inserções no fêmur e na bacia”, explica o médico cirurgião especialista em quadril, Cláudio Marques.
Ele acrescenta que, com a definição da conduta cirúrgica, foi iniciada a preparação da unidade para tornar a realização do transplante ósseo uma realidade. “O Hospital Otávio de Freitas iniciou o contato junto à Central de Transplantes de Pernambuco e o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), referência nacional em ortopedia localizada no Rio de Janeiro e que conta com um banco de ossos. Após os trâmites para autorização para o procedimento serem confirmados com o Sistema Nacional, e também a garantia do material a ser encaminhado pelo Into, iniciamos a preparação da equipe e da paciente.”
O procedimento de transplante ósseo e a revisão de prótese de quadril aconteceram no mesmo tempo cirúrgico – ou seja, no momento que a paciente entrou no bloco cirúrgico do Otávio de Freitas, as duas intervenções foram feitas no mesmo momento. O atendimento à paciente envolveu cerca de 10 profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos, anestesiologista e instrumentador cirúrgico e durou cerca de três horas.
“Um dia após a realização da cirurgia, já comecei a me movimentar e a sentar no leito (cama do hospital). Os médicos disseram que os exercícios de caminhada podem começar a partir de amanhã (sexta-feira, dia 26) para avaliar como está sendo a recuperação. Eu ainda estou sem acreditar que vou voltar a andar mais naturalmente porque, até fazer a cirurgia, eu não conseguia ficar muito tempo em pé e só me locomovia com uso de muletas”, relata Nilsa Maria.
“Trabalho como revendedora de cosméticos, e essa lesão dificultava muito o meu trabalho, além das dores de quadril e coluna. Já passei por avaliação de muitos profissionais e encontrar a equipe do Otávio de Freitas foi uma alegria muito grande”, comemora.
ACOMPANHAMENTO
“Vamos continuar acompanhando essa paciente pelos próximos meses, pois o processo de recuperação dela envolve, entre outras coisas, o início do trabalho de fisioterapia para o retorno à caminhada. O transplante contribuiu ainda para correção da desigualdade do comprimento das pernas em cinco centímetros”, informa Cláudio Marques.
De acordo com ele, espera-se que a recuperação total da paciente ocorra em seis meses, que é o tempo médio que o osso leva para se integrar totalmente ao novo organismo. “Para caminhadas leves, acreditamos que, em um mês, a paciente possa se movimentar com ajuda de andador, por exemplo. Após a alta hospitalar, nossa equipe irá acompanhá-la mensalmente em nosso serviço de ambulatório. A expectativa é que, em seis meses, ela possa desempenhar suas atividades com mais normalidade”, complementa.