Se a comparação entre regiões e unidades da federação traz um olhar macro sobre a desigualdade, quando se separam as capitais e as cidades do interior agrupadas por estratos populacionais, as diferenças se destacam ainda mais. No País, as capitais das 27 unidades da federação reúnem 23,8% da população e 55,1% dos médicos.
Em síntese, mais da metade dos registros de médicos em atividade se concentra nas capitais, onde mora menos de um quarto da população do País. A razão das 27 capitais é de 5,07 médicos por mil habitantes. No interior, esse índice é 1,28, ou seja, 3,9 vezes menor.
Norte – Considerando-se as regiões Norte e Nordeste, apenas o estado do Tocantins tem mais médicos no interior do que na capital (56,8% contra 43,2%). No extremo oposto está o Amazonas, onde 93,1% dos médicos se encontram na capital, Manaus, que, por sua vez, abriga pouco mais da metade dos cerca de 4 milhões de habitantes do estado.
Do total de 4.844 médicos do Amazonas, 4.508 estão na capital e 336 (6,9%) atendem em 62 municípios, espalhados por uma área de 1,57 milhão de km2. Ressalte-se que os médicos do Amazonas representam 1,1% do total de médicos do País.
Esse quadro de escassez de médicos nos interiores se repete em estados como: Sergipe, com 91,8% de seus médicos em Aracaju, e Amapá, com 89,5% dos médicos em Macapá. Em nove outros estados, mais de 70% dos médicos estão nas capitais. Um quadro diferente se observa nas regiões Sul e Sudeste, onde, além de maior taxa de médico por habitantes nos estados como um todo, há uma presença importante de profissionais nas cidades do interior.
Sudeste – Em todo o Sudeste, 50,7% dos médicos estão em municípios do interior. Dentre os estados dessas duas regiões, apenas o Rio de Janeiro tem mais médicos na capital (64,4%) do que no interior (35,6%). Já na capital de São Paulo vivem 47,3% dos médicos do estado, contra 52,7% que atuam no interior. O interior paulista apresenta razão de 2,02 e sua capital tem 4,98 médicos por mil moradores.
Mas há situações extremas: o interior de todos os estados do Norte tem razão de 0,47. Nos municípios que não capitais de 16 estados do Norte e Nordeste – com exceção de Tocantins – há menos de um médico por mil moradores. Em nove deles a razão médico por mil habitantes é menor que 0,5. Nos municípios do interior do Sudeste e Sul, a razão sobe para 1,89 e 1,53, respectivamente, mas ainda fica abaixo da razão nacional, que é de 2,18.
Extremos também atingem as capitais. A razão média em Vitória chega a 12,27 médicos por mil habitantes. No entanto, no interior do Estado cai para 1,43. Nesse estado, moradores da capital contam com 8,59 vezes mais médicos que moradores do interior. Quando se comparam os números das duas pontas, vê-se que moradores dos municípios do interior do Norte e Nordeste contam com 25 vezes m
enos médicos por mil habitantes que os moradores de Vitória, Espírito Santo. No entanto, ainda há outras formas de visualizar as desigualdades entre capital e interior, considerando-se não só o número de médicos, mas também o das populações em questão. Para isso, foi dividida a razão médico por mi
l habitantes das capitais e pela razão médico por mil habitantes do interior. O resultado é igual a 5,07 nas capitais. Para o interior de todos os estados, é 1,28. Quando se divide a primeira pela segunda, obtém-se o valor de 3,96. Esse número permite dizer que a razão médico/habitante das capitais é quase quatro vezes a razão do interior. Isto é, um número alto indica maior desigualdade da presença médica na capital e no interior de um estado. E vice-versa.
Não por acaso, o Sudeste tem o menor indicador entre as regiões (2,97) e São Paulo, o mais baixo entre todos os estados (2,46), o que pode ser explicado pela existência de grandes centros médicos no interior paulista (Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Botucatu etc.).
Na sequência, Mato Grosso do Sul tem 2,51; e Rio de Janeiro, 2,83. No outro extremo estão Sergipe (28,47), Maranhão (13,98), Amazonas e Alagoas (12,37) e Pernambuco (11,78). Em todos esses estados, o número de médicos por mil habitantes é pelo menos 11 vezes maior nas capitais que no interior.