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Pernambucano cria bonecos que sangram

Simuladores biológicos ganham destaque e são adotados em todo mundo

Bonecos que sangram como gente, órgãos idênticos aos humanos, corpos artificiais que respondem aos procedimentos tal qual um paciente de carne e osso. O que parece ficção científica se tornou realidade para cirurgiões em treinamento pelas mãos de um pernambucano.

Criados pelo professor de videocirurgia em ginecologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Lyra, os chamados simuladores biológicos – bonecos dotados de órgãos bastantes semelhantes aos humanos, mas confeccionados a partir de carne animal e de uma substância batizada de neoderma – ganharam notoriedade e passaram a ser distribuídas no mundo inteiro pela empresa alemã Karl Storz, fabricantes de equipamentos médicos de tecnologia de ponta. Os modelos, usados para treinamento de cirurgias estão sendo adotados em vários países em substituição a procedimentos reais em seres humanos.

Os simuladores servem para familiarizar cirurgiões com técnicas de videolaparoscopia (cirurgias feitas por meio de pequenas incisões com a ajuda de uma câmera), videohisteroscopia (procedimentos auxiliados por vídeo e feitos por via vaginal) e cirurgias convencionais. Os modelos, também utilizados pela UFPE para formação médica, surgiram há cinco anos de uma idéia simples. “Minha intenção era realizar treinamentos e cursos de reciclagem nas técnicas de videolaparoscopia e histeroscopia. Mas não quis utilizar pessoas vivas com profissionais que não tinham experiência”.

Para evitar riscos, Lyra passou a utilizar um útero artificial feito a partir da língua do boi. A peça era tratada, prensada, cortada e montada de modo a se assemelhar ao máximo com o órgão. Um processo de amaciamento conferia à parte interna do modelo o aspecto parecido com o do endométrio, camada que reveste o útero.

Útero – “A repercussão foi tanta que resolvi montar uma boneca em posição ginecológica com o útero artificial dentro, o que tornava a simulação muito próxima da realidade”, explica Lyra. O modelo, pioneiro no mundo, ganhou o nome de Eva. Para simular problemas reais, tumores são colados ao órgão artificial e microcateteres – controlados pelo médico monitor por um joystick – permitem imitar o sangramento das cirurgias reais. Só na América Latina, mais de mil médicos já foram treinados com a ajuda das técnicas.

Empolgado com a idéia, o médico acabou criando a Eva laparoscópica, dotada de peritônio – a membrana que recobre a cavidade abdominal. Problemas com a utilização de material biológico levaram o pesquisador a desenvolver recentemente um material batizado de neoderma cirúrgico.

À base de polímeros, o neoderma permite a confecção de peças com cor, textura e propriedades bastante semelhantes a tecidos humanos – inclusive sangramentos por meio dos cateteres. “O novo material nos permitiu desenvolver um modelo para treinamento de 20 técnicas cirúrgicas”, anima-se o médico. No futuro, a intenção de Lyra é utilizar o material em simuladores de cirurgias vasculares, colostomias e de fígado, estômago, pulmão e uretra.

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
TEXTO: Juliana Aragão, do Diário de Pernambuco.